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14 de abril de 2020

Oportunidades trabalhistas para minimizar os efeitos da Covid-19

Oportunidades trabalhistas para minimizar os efeitos da Covid-19

Sem dúvida, vivemos uma calamidade equivalente à guerra e, talvez, a pior dos últimos cem anos. Em meio à incerteza e aos desafios, é preciso buscar oportunidades, seja para se fortalecer seja, ao menos, para minimizar os efeitos da crise. Nesse sentido, abordamos, a seguir, algumas oportunidades na área trabalhista, que buscam a redução de despesas, geração de caixa e aproveitamento das medidas emergenciais disponibilizadas pelo Governo Federal:

a) Substituição dos depósitos recursais por seguro garantia

Os recursos trabalhistas têm um custo alto às empresas, que, para terem acesso à segunda instância, devem depositar em garantia do juízo o valor de R$ 9.828,51. Ainda, para recorrer ao TST (órgão superior na esfera trabalhista), a empresa deve depositar mais R$ 19.657,02, caso o valor provisório da condenação ultrapasse essas somas.

Recentemente, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ definiu a possibilidade de empresas substituírem os depósitos recursais efetivados nos autos de processos judiciais por seguro garantia ou fiança bancária, o que também pode se aplicar a valores constritos na fase de execução, ainda em discussão.

O seguro garantia ou carta de fiança devem garantir o valor total atualizado dos depósitos, acrescido de 30% e, ainda, deve haver uma breve exposição de dificuldades do caixa ou benefícios que esses possíveis levantamentos trarão à empresa.

b) Recuperação de depósitos judiciais

Considerando os diversos valores despendidos pela empresa em recurso trabalhistas, alguns depósitos recursais são “esquecidos” após o fim do processo.

O TRT-2 (São Paulo) fez esse levantamento, por meio de um sistema denominado Sistema Garimpo, e localizou mais de R$ 35 milhões de depósitos “abandonados”.

A fim de recuperar os valores esquecidos, é necessária a efetivação de auditoria trabalhista nos processos para o levantamento de eventuais depósitos recursais.

c) Aplicação da Medida Provisória 936

A MP 936 permitiu às empresas promoverem a redução proporcional de jornada e salário e a suspensão temporária do contrato de trabalho de seus empregados. Para ter acesso ao Programa, a empresa deve negociar junto aos sindicatos, mediante um acordo coletivo, além de realizar a comunicação ao Ministério da Economia.

Diante da medida inédita, que levanta dúvidas quanto à aplicação prática, necessária a devida orientação jurídica especializada, bem como análise dos impactos e intermediação de negociações junto aos sindicatos, a fim de reduzir os gastos e minimizar os riscos trabalhistas.

d) Aplicação da Medida Provisória 927

A MP 927 permite a adoção de diversas medidas para enfrentamento dos efeitos econômicos e para preservação do emprego, tais como teletrabalho, antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas e banco de horas.

Para se beneficiar das medidas, a empresa deve observar atos formais, garantindo a comunicação com o empregado, mediante acordo individual de trabalho.

Nesses casos, é necessária a estrita observância quanto à aplicação e formalização dos documentos relativos às medidas, com o objetivo de dar validade aos atos e evitar questionamentos futuros.

e) Redução das verbas indenizatórias rescisórias

Empresas que, devido ao impacto da crise não encontrarem outra alternativa senão paralisar atividades e demitir seus empregados, seja de forma geral ou para determinadas filiais ou unidades produtivas, podem contar com benefícios na rescisão do contrato de trabalho, reduzindo o valor a ser pago a título de verbas indenizatórias (multa do FGTS e aviso prévio).

f) Redução ou suspensão do pagamento de acordos firmados perante a Justiça do Trabalho

As empresas que possuem acordo judicial com parcelas em aberto para o período de pandemia, podem buscar na Justiça do Trabalho a redução do pagamento até a normalização das atividades.

Para a suspensão ser concedida, é necessária a demonstração de real necessidade de adiar o parcelamento do acordo, mediante petição que comprove o impacto financeiro na empresa ocasionado pelo COVID-19.

A efetivação de todas as medidas que visem à preservação de caixa, à recuperação de ativos e à redução de impactos financeiros, utilizando da forma mais benéfica a legislação vigente e alterações recentes, certamente, farão toda a diferença para superação deste momento de crise.

Edison Fernandes, sócio fundador do FF Advogagados
Responsável pelas áreas de Direito Público e Direito contábil IFRS
edison.fernandes@fflaw.com.br

Richard Abecassis, coordenador das áreas trabalhista, tributária e de recuperação de empresas
richard.abecassis@fflaw.com

Paula Barbosa, atua nas áreas trabalhista, tributária e de recuperação de empresas
paula.barbosa@fflaw.com.br

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