
Inteligência artificial e análise preditiva na advocacia contenciosa: eficiência e estratégia a favor do cliente
Por Bruno Maglione
A advocacia contenciosa sempre enfrentou dois grandes desafios: a imprevisibilidade das decisões judiciais e o volume crescente de processos. Nesse cenário, a inteligência artificial e a análise preditiva surgem não como tendências futuristas, mas como ferramentas atuais capazes de transformar a forma como advogados e empresas avaliam riscos e definem estratégias.
A análise preditiva consiste na aplicação de modelos estatísticos e algoritmos sobre grandes bases de dados jurídicos — decisões judiciais, precedentes, perfis de magistrados e movimentações processuais. Esse cruzamento permite, minimamente, identificar padrões de comportamento judicial e estimar probabilidades de êxito em demandas específicas, fornecendo um grau de previsibilidade até então inalcançável. Em um ambiente em que a experiência individual do advogado sempre foi determinante, soma-se agora a possibilidade de embasar as decisões estratégicas em métricas objetivas.
Para o cliente, os benefícios são diretos: decisões estratégicas mais conscientes, gestão de riscos mais eficiente, redução de custos com litígios de baixa probabilidade de sucesso e maior assertividade na condução processual.
O advogado, por sua vez, passa a dispor de um suporte tecnológico que não o substitui, mas potencializa sua atuação. Afinal, a inteligência artificial não interpreta o contexto fático, não constrói teses criativas nem pondera valores jurídicos; ela fornece insumos. É o profissional que transforma os dados em estratégia jurídica.
Os números confirmam a urgência desse movimento. Segundo o relatório Justiça em Números 2024 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), foram iniciados mais de 35 milhões de novos processos na Justiça brasileira, um aumento de 9,4% em comparação com 2022. Ao final de 2023, havia aproximadamente 83,8 milhões de processos em tramitação, a maioria na Justiça estadual.
Esse acervo gigantesco resulta em índices de congestionamento elevados, prazos dilatados e custos crescentes. Nesse cenário, ignorar soluções de automação e predição é, em última análise, abrir mão de competitividade.
A própria atuação do Judiciário caminha nessa direção. O CNJ, por meio da Resolução nº 332/2020, estabeleceu diretrizes para o uso ético da inteligência artificial, e tribunais já utilizam sistemas como o Victor (STF) e o Sinapses (CNJ) para triagem e análise processual. Se o Poder Judiciário já utiliza essas ferramentas, parece natural que a advocacia acompanhe essa transformação.
Evidentemente, há limites. A qualidade das previsões depende da confiabilidade das bases de dados, não pode desconsiderar a singularidade de cada caso e precisa respeitar parâmetros éticos e legais, em especial os previstos na LGPD. É por isso que a análise preditiva deve ser compreendida como instrumento complementar, nunca como substituto do raciocínio humano.
A conclusão é inequívoca: a inteligência artificial aplicada ao contencioso projeta a advocacia para um novo patamar. Ao combinar experiência jurídica, análise de precedentes e dados estatísticos, o advogado entrega ao cliente mais segurança, previsibilidade e eficiência. Em vez de competir com a técnica jurídica, a inovação tecnológica a reforça, colocando-se a serviço de soluções personalizadas e de uma defesa verdadeiramente estratégica.
